terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Voltei.

Depois de um longo inverno. Ou deveria falar longo verão que insiste em não acabar? Enfim, estou de volta. Começo de ano pra mim não é fácil. Além das férias, passei 10 dias com a linda Gabriela na praia, ainda tenho todas as previsões orçamentárias e de vendas anuais para preparar. É um trabalho longo e que demanda muita concentração, por isso tenho passado a maior parte de meus dias com fones de ouvido para não escutar os ruídos do escritório. Agora que os budgets and forecasts estão prontos, posso voltar a fazer outras coisas, inclusive voltar a conversar com todos que me acompanham.

Pra começar, gostaria de dizer que minha recuperação foi ótima. O ombro já é passado. A fisioterapia foi fundamental, doeu pra caramba, mas na semana de natal já estava nadando. Nadei muito na praia no começo de janeiro, ainda com problema de mobilidade, mas foi bom para ir "soltando o braço" pra ganhar confiança para a fase seguinte que foi o fortalecimento. Logo que voltei ao Brasil depois do acidente, falei para o Emerson que iria voltar antes do fim do ano a treinar, ele como é experiente me pediu calma e que não tivesse pressa. Mas me conheço, e sabia que daria pra voltar. Na semana entre natal e ano novo fiz treino dos três esportes e voltei a ser triatleta.

Algumas coisas aconteceram e seriam inevitáveis. Perdi meu ritmo, isso era inevitável e confesso que estou um pouco confuso. Tem dias que treino bem e outros que não tenho nem vontade. Ontem fui até a academia para fazer musculação, cheguei no vestiário e dei meia volta. Não estava com vontade.

Ainda tenho um pouco de medo de pedalar em pelotão. Mas tenho me forçado a isso. Por outro lado tenho feito os treinos de força sozinho ou em dupla. Hoje mesmo fiz os 10 tiros de 2km com o Rodrigo Esper, revezamos a cada km e foi um super treino. Nos dois últimos apareceu o Borejo e o Duda e aí a coisa foi animal.

Optei em não fazer o Internacional de Santos que vai ser esse domingo, e irei fazer o SESC Triathlon em Caiobá na próxima semana. Essa prova em Caiobá é curta - 700m natação, 20km bike e 5km corrida - e não tenho nenhuma expectativa com relação a ela. Quero estar na praia, em casa, ver meus amigos. O SESC Caiobá foi minha primeira prova, então tem um significado especial. A Mari vai também - vai ser sua volta ao triathlon -  e meu irmão Alcy vai nos pegar no sábado pela manhã no aeroporto, vai ser bacana.

Desejo aos meus amigos que vão fazer o Internacional de Santos toda a sorte. Se continuar esse calor, e não tem porque não continuar, a coisa vai ser pesada. Ano passado estava um forno e a corrida foi muito desgastante. Vai ter que saber dosar o pedal pra conseguir correr os 10km de cabeça erguida. Hidratação vai ser fundamental.

Vamos em frente e no começo da próxima semana solto a primeira etapa do TPUC - Triathlon por uma Causa - para que todos possam ter a chance de participar do projeto esse ano.

Fui ... ainda tentando achar meu pace - my pace or your pace ?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Pensamentos de Off Season forçado

Mais um ano, e nada mais piegas que um post de fim de ano. Azar de vocês, eu não aguentei. Então lá vai.

Em primeiro lugar estou comemorando que atingi minhas metas junto ao triathlon esse ano. Apesar de não ter conseguido acabar a prova de Clearwater por causa do acidente, o simples fato de ter classificado já foi satisfatório, ou como gosto de dizer: "Bastante Razoável". (Só quem vai a padoca no sábado é que consegue entender essa expressão.)

De qualquer maneira esse era um dos objetivos de 2010. O Outro era ganhar uma etapa do Troféu Brasil de Triathlon, para mim o mais importante circuito brasileiro. Venci duas e só não estive no pódio em duas etapas, uma que não terminei por um pneu furado e a última etapa que não participei por causa do ombro quebrado. Ficou uma sensação de quero mais. Tinha condições de ganhar o campeonato, mas fiquei em terceiro. Quem sabe o ano que vem.

Mas chega de falar de mim, gostaria de falar sobre os treinos e motivos que levam cada um a fazer essa loucura que se chama triathlon. Ficar um mês sem treinar abriu os olhos para algumas coisas, assim como ver meus amigos competindo (ou completando) a prova de Pirassununga. 

Triathlon é saúde. É nossa válvula de escape, esporte, competição, superação. Temos entre nós os mais variados tipos de pessoas, com habilidades diferentes e personalidades não menos diversas. Convivemos bastante juntos e nem sempre estamos todos na mesma sintonia o tempo todo. Temos nossas angústias, objetivos, problemas pessoais, profissionais, e também os dias bons em que queremos dividir nossas alegrias. Nem sempre somos tolerantes com os outros, mas deveríamos ser.

O tempo das provas é importante mas não deve ser o medidor absoluto do sucesso de cada um. Ninguém, além do próprio atleta sabe das dificuldades e limitações que experimentamos para treinar. Num grupo de vários atletas de mesma habilidade física podemos ter resultados muito diversos e isso reflete o momento de vida de cada um. Filhos, trabalho, família, disponibilidade de tempo e financeira afetam de maneira significativa os treinos e resultados de provas. 

Você entra numa prova para fazer tempo e testar seus limites? ótimo, eu também. E você, para completar a prova e vencer o desafio sem expectativas de resultados a não ser a linha de chegada? Excelente. Voltando para vencer uma lesão? Para estar junto dos amigos e comemorar a vida e sua saúde? Para mostrar para você mesmo (e aos outros, por que não?) que pode, que consegue? Tudo isso é justo. O que não é justo é julgar os resultados dos outros somente pela sua ótica de objetivos.

Quem faz provas de maneira competitiva, tentando ganhar sempre e em busca do seu melhor tempo vai invariavelmente quebrar uma vez ou outra. Se isso não acontecer é porque não está fazendo força suficiente. Devemos questionar ou pior, criticar isso? Não, de maneira nenhuma. Quando isso acontece aprendemos algo muito importante sobre nossos limites e seremos muito mais fortes na próxima vez.

Por outro lado devo considerar como um atleta inferior aquele que só tem o objetivo de cruzar a linha de chegada? Claro que não, bem pelo contrário. Não é preciso lembrar que uma das coisas mais emocionantes de um ironman é que os profissionais voltam a linha de chegada em vários momentos para receber os amadores mais lentos. É uma tradição os vencedores da prova voltarem para saudar os últimos competidores que completam o percurso no limite de tempo, e o objetivo disso é mostrar que todos que cruzam aquela linha de chegada são vencedores. 

Nos treinos não é diferente, as vezes estamos bem e queremos fazer mais força do que é o planejado, outras vezes precisamos ficar na roda por mais tempo que o normal. Sem problema. Um dia estava me recuperando de uma prova e fui pedalar no pelotão das meninas. Quando me perguntaram porque estava lá respondi que estava cansado! Burrice, grosseria, não se faz isso. A maioria entendeu o que queria dizer, mas alguém menos avisado pode achar essa resposta arrogante. Como quase todas me conhecem bem, não acharam ruim ter um homem para puxar o treino todo.

O quero dizer é que até sem querer fazemos comentários que podem ofender alguém, ou alguma brincadeira um pouco mais pessoal que possa ser mal entendida. Portanto, enquanto não traço os objetivos para 2011 vou deixar esse para vocês me cobrarem a partir de agora, ser mais agradável e tolerante com meus companheiros de treino. Alguém topa entrar nessa?

Fui... com uma vontade enorme de voltar a treinar com todos, falta pouco

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Under Construction

Fui razoavelmente bem atendido no hospital de Clearwater. Todos foram simpáticos, mas não mais que medianamente competentes. Levei ainda alguns dias para resolver as pendências de seguro e algumas ligações entre o hospital e a seguradora, mas correu tudo bem.

Como tinha programado alguns dias em Orlando, não vi muito sentido em cancelar essa parte da viagem e fui para lá com uma boa turma de amigos. Vale comentar aqui o apoio de todos que estavam em Clearwater e depois em Orlando. O Pedro Fernandes e Eduardo Sarham que foram me buscar no hospital, pegaram a bike e as sacolas. A Nilma Machado que percebeu minha ausência na prova e comunicou os outros. O apoio em vários momentos dos companheiros de viagem; Ricardo Gaspar e Ana, Fernanda Garcia, Felipe Guedes, Igor Amoreli, Adriano Sachetto, Rodrigo, entre outros. O apoio da Mariana ao coordenar as informações no facebook, em constante contato via rádio com o Pedro e o Sarham e meu irmão Alcy em Curitiba. Foi incrível perceber quantos amigos estavam me acompanhando pela internet no ironman live e também no facebook. A partir do momento que meus parciais sumiram do site todos começaram a se perguntar o que tinha ocorrido e o óbvio apareceu. Se você está acompanhando alguém e ele some depois do primeiro parcial do ciclismo só há uma coisa a fazer; torcer que não tenha sido muito grave. Meu celular estava no hotel e o Nextel na sacola que pegaria depois da chegada. No hospital tive muito tempo para pensar em como todos iriam reagir com a falta de notícias.

Chegando em São Paulo na quinta-feira é que as coisas começaram a acontecer de fato e aí mais amigos foram fundamentais. O Daniel Blois nem se fala (acho que ele estava preocupado em perder o companheiro de treino) me indicou o ortopedista de ombro, Dr Gustavo, que me atendeu no dia seguinte. O Daniel é radiologista e na sexta feira fiz os exames (ressonancia do ombro) as 9:00 e antes de eu chegar no escritório as imagens já estavam com o Dr.Gustavo, com meu irmão Alcy (também ortopedista) e com o próprio Daniel. Os três se comunicaram e decidiram todo o tratamento em questão de minutos. No fim da tarde fui ao consultório do Gustavo apenas para ele me orientar e explicar o que aconteceu.

Diagnóstico e tratamento: Fratura na Glenóide de cima a baixo no ombro esquerdo e mais uma (ou a mesma) no corpo da escápula. Como o afastamento do fragmento foi mínimo, optamos por tratamento convencional, sem intervenção cirúrgica ( estou aprendendo a escrever em mediques). Imobilização até dia 11/12 e começo da fisioterapia no dia 13/12. Duas semanas de fisio todos os dias e farei uma radiografia no dia 22/12 e devo ser liberado na consulta do dia 23/12. Ou seja, antes do que eu esperava.

Treinos: A partir do dia 13/12 começo três modalidades, fisioterapia para retomar os movimentos do ombro e braço, rolo (aparelho que permite pedalar com a minha bicicleta parado em casa) e transport (aparelho eliptico que simula o movimento da corrida sem impacto). A idéia é não perder muito preparo depois de quatro semanas sem fazer absolutamente nenhum exercício. Antes do natal começo o trabalho de musculação para retomar a força. Só irei pedalar na rua novamente no momento que estiver bastante seguro da minha musculatura e movimentação do braço esquerdo. É uma questão de segurança, o controle da bicicleta depende disso, é preciso estar bem e com os reflexos apurados.

Para completar, foi um mês diferente, de muitas angústias e espera. Correu tudo bem e agora é levantar a cabeça e começar a treinar forte. Em maio tem o ironman Brasil e estarei lá. Não sei se mais forte ou mais fraco que agora, mas o mais forte que conseguir. 

Fui... com muita vontade de treinar

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fim de temporada

Acabou... esse ano esportivo já era para mim. Aproveito para fazer uma reflexão de como foi positivo. Vamos começar por Clearwater 2010, Mundial de Ironman 70.3, prova super seletiva em que você deve conseguir classificação em uma das muitas etapas que ocorrem no mundo todo.

Minha classificação veio no Ironman Brasil 70.3, e no dia 09 de novembro embarquei para Clearwater, Flórida.

Vou contar as partes que vocês ainda não sabem. Começa com um barulho seco, nunca vou conseguir descrever corretamente, mas parecia que algo estava me levantando no ar e arremessando com toda a força contra o asfalto quente e áspero daquele viaduto.

Dor...... confusão..... mais dor..... meu corpo escorrega no chão e lembro perfeitamente de pensar nas marcas que irão ficar, mais um pouco de dor. Como o tempo passa devagar, de repente a relatividade parece evidente e você vive intensamente aqueles poucos segundos e a quantidade de pensamentos, reações e sentimentos é descomunal. Mais alguns instantes de angústia e estou deitado no asfalto, de lado, apoiado naquilo que acho que ainda é meu braço esquerdo, posição fetal. Tenho medo de levantar, estou de olhos fechados, dor de novo. Abro os olhos e alguém fala em um Inglês carregado de sotaque alemão "você está bem?" consigo responder que não, preciso de uma ambulância. Silêncio..... algumas bicicletas passam e me dizem coisas que  não consigo registrar. Vamos sair do meio da estrada, é perigoso, me fala o alemão, não consigo levantar e ele me ajuda a rastejar de lado até um local mais ou menos seguro. Você vai continuar a prova? Minha resposta é não. Furei dois pneus e estou sem estepe, posso pegar sua roda traseira? Pega meu pneu reserva, respondo. Mas o seu é tubular ele insiste, o meu é clincher, eu posso terminar a prova e você não, posso pegar sua roda? Dor, confusão... será que estou ouvindo bem? Nesse momento consigo sentar e vejo minha bicicleta a uns quinze metros de distância, deitada, a roda da frente para cima e o pneu fora do aro. Fecho o olho e deito de costas. Algo incrível quando se cai de bicicleta é que o calor é insuportável. Você está fazendo exercício a mais de 35km/h e tem vento o tempo todo, quando cai, a temperatura vai para o espaço, pressão cai, e uma confusão bate na cabeça. Posso pegar sua roda? Me desculpe mas nesse momento a última coisa que vou pensar é nisso, não pode. Sento novamente e chega uma moto da organização. Você está bem? Não. A Ambulância já está vindo. Qual seu nome?, respondo, idade, ok, data de nascimento (vou ouvir isso mais umas quarenta vezes durante o dia, aparentemente é a forma de ver se estou bem) você vai continuar na prova? não. Então preciso recolher seu chip, posso retirá-lo? Sim. Estou sentado, não sei como, mas estou e começo a olhar para meu corpo. Alguém tira meus óculos e a bicicleta é trazida para perto. Olho meu braço esquerdo.... uma bola no cotovelo, parecia um osso saltado, achei que era uma fratura exposta que estava pronta para romper a pele. De repente movo os dedos sem dor, ué? Giro o braço, nada, dobro e estico, nada, na falta de coisa melhor pra fazer enfio o indicador direito na bola e era só um inchaço da pancada, pode estar quebrado, mas não é tanto assim. Olho para o ombro e está em carne viva, o mesmo para o cotovelo, coxa, joelho, canela e parte superior das duas mãos. Chega a ambulância. Onde dói? Em tudo. Preciso que seja mais objetivo. Ok ok, ombro esquerdo e cotovelo, possivelmente fraturados (começo a agradecer por falar inglês bem) Você está com o capacete quebrado, deite que irei retirá-lo, não se mova, nós faremos tudo. Pegam na minha nuca, me deitam no chão. Consegue esticar as pernas? Pronto. Sou todo imobilizado. Nesse momento a dor começa a aumentar exponencialmente, está ficando insuportável. Deve ter levado uns vinte minutos para me colocarem na ambulância. Antes da última amarração consigo apalpar minha clavícula com a mão direita, está inteira, ufa.

Ar condicionado dentro da ambulância, ufa. Agora estou deitado e o paramédico vem fazendo quinhentas perguntas e me acalmando ao mesmo tempo. Você está com dor? Posso lhe dar algo se quiser. Por favor, manda o que tiver aí. Ele faz o acesso intra venoso com a ambulância em movimento, não senti nada. Vamos combinar que errar as minhas veias também é difícil. Uma ampola... melhor? não. Segunda... melhor? nope, então vamos lá terceira e aí começa a aliviar. 

Lembro perfeitamente da orientação pré prova durante o jantar da sexta feira. O diretor técnico do ciclismo alerta que pelotões irão ocorrer, que é difícil controlar (por isso a prova está mudando para Las Vegas no ano que vem, aparentemente com mais subidas a coisa fica melhor) e que os acidentes irão ocorrer nos pelotões. Mas vocês atletas podem evitar tomando a opção de não ficar nos pelotões. Durante 80km consegui evitar problemas ficando longe dos pelotões. Quatro grandes me passaram, com mais ou menos 30 a 50 atletas em cada. Uma carnificina. Fiquei longe de todos. Justamente no lugar mais largo da prova, um pelotão enorme me alcançou e como tinha espaço foi alargando e muito contato lateral até que me pegaram e fui jogado para o lado. Organização da Ironman - tomei a opção correta e não foi suficiente, vamos acordar. 

Mais tarde continuo porque não é fácil digitar com uma mão só... fui

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Minha bicicleta

Já faz um mês do último post. Longo inverno pós o 70.3 de Penha. Bateu uma ressaca e excesso de trabalho. Voltei logo aos treinos para Clearwater (mundial de Ironman 70.3) que será dia 13 de novembro, mas foi difícil de embalar. Mesmo assim o que vou escrever hoje é sobre a bicicleta e o que ela significa pra mim.

Me lembro perfeitamente do primeiro dia que andei sem as famosas rodinhas. Tinha uma bicicleta pequena vermelha, possivelmente caloi, e meu pai me deu um pouco de ajuda no começo e desci a pequena rampa da saída da casa da esquina da Reinaldino de Quadros que, naquela época ainda era de terra. Andei por talvez uns 100 metros em direção a obra dos edifícios que ficam na esquina da Souza Naves com Pe.Germano Mayer. Ao fim da minha primeira jornada não sabia como fazer a curva e assim levei o primeiro de muitos tombos. Como poderia esquecer? Impossível. É a bicicleta, o símbolo máximo da minha infância. Meu meio de transporte, diversão, esporte, brincadeiras.

São momentos mágicos. Os dias de verão que recebiam no fim da tarde aquele famoso temporal e saímos para andar de bicicleta pelas ruas do bairro e voltávamos pingando - e sem freio também. As idas a natação na academia. Quando tínhamos as meninas para brincar juntos, fazíamos um misto de brincadeira de casinha e bicicleta, saindo de "casa" para trabalhar e voltar mais tarde e participar também das brincadeiras delas. Era ótimo. Certa vez meu grande amigo de infância, Marcos André, teve a feliz idéia de dar um susto em sua irmã e combinamos de passar um em cada direção em lados opostos a toda velocidade. O que não contávamos é que um dos dois errou o lado e batemos de frente sob os olhos admirados da Michele. Em outro dia estava na garupa da bicicleta dele e pedi que não descesse rápido da calçada e a próxima lembrança que tenho é do meu incisivo central direito quebrado (quem nunca viu é só prestar atençao na próxima vez que me encontrar). Para completar nossas peripécias saímos a noite para tocar a campainha dos vizinhos e nos esconder e numa dessas vezes tivemos que simular um tombo de bicicleta pois o vizinho resolveu fazer guarda em frente da casa e já estava no horário do jantar. Se colou não sei, mas foi ridículo simular choro rindo.

Depois vieram as bicicletas BMX. O primeiro a ter foi o Dudu, fazíamos um circuito na rua com rampas de madeirite "emprestadas" de alguma obra e tijolos da mesma origem. Cronometrávamos a volta e assim passávamos horas do nosso dia, tentando ser mais rápidos e acabando com o que restava de pele em nossos joelhos e canelas a cada tombo.

Teve também, um pouco antes, a época das Caloi 10. Eu tinha uma, o Marcos tinha uma peugeot azul e o Dudu uma Monark laranja. tínhamos um circuito pelas ruas do bairro e novamente saímos cronometrando as voltas. Pena que naquela época não pensávamos em andar em pelotão.

Sempre gostei de ferramentas e as manutenções eram feitas em casa. Claro que ter três irmãos mais velhos e um pai com uma caixa de ferramentas equipada ajudou muito. Mas aprendi a fazer quase tudo, desde regular freios, trocar e remendar câmeras, regular a tensão da corrente, lavar, limpar, lubrificar, o que tivesse que ser feito. Regulagem do câmbio era um pouco mais difícil mas as vezes dava certo e devo lembrar que não tinha blocagem rápida naquela época, era na base da chave de boca e alicate de pressão.

Hoje tenho uma bicicleta de gente grande mas sinto saudades daquelas bicicletas e do que elas significavam. A bicicleta é para a criança o símbolo máximo da liberdade e da responsabilidade que vem com ela. Você sai e está por conta própria, mas tem que cuidar bem dela, entender como funciona e respeitar seus limites permanentemente.

Minha filha tem cinco anos e ainda não sabe andar sem rodinhas. É mais velha do que eu era na minha aventura na bicicleta vermelha. Ela tem uma bicicleta das Power puff girls, rosa, linda, com uma cestinha em formato de coração, mas acho que nunca anda nela. Será que ela vai um dia gostar das bicicletas como eu? Sei lá, mas já tenho uma boa idéia de presente de natal e o que fazer nas férias com ela.

Fui... procurando bicicletas de meninas. 

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Penha - Última parte

E lá vou eu pedalando. Esse ano tinha bem mais gente e os pelotões estavam exagerados. O problema de pelotão de triatletas é que a maioria de nós não sabe pedalar em pelotão.Não é nada demais, mas existem algumas regras de segurança, já que se um cair na frente, pode levar fácil uns dez que venham atrás. 

Encontrei uma maneira interessante de me livrar deles. Já que era difícil ultrapassar os pelotões no plano e não me interessava em nada ficar pedalando nesses bandos desorganizados por dois motivos: regras (é proíbido vácuo) e segurança, usei a estratégia de ficar afastado no plano e atacar nas subidas. Os treinos de Romeiros foram ótimos pra isso. A cada subida de viaduto eu ultrapassava pequenos pelotões de dez a quinze pessoas e assim pedalava sozinho depois sem correr riscos. É claro que as vezes alguns desses pelotões grudavam em mim, mas só até a subida seguinte. 

Fiz força no pedal e comi como nunca nessa modalidade. Como não estava tanto calor, hidratei menos que esperava, uma garrafa de accelerade de 500ml e mais tres garrafas de gatorade com água nessa etapa. Nos postos de hidratação pegava uma de gatorade e colocava totalmente no aerodrink (garrafa fixada no aerobar e que permite beber por um canudo sem sair da posição aerodinâmica), completando com água. tomei 4 Gu (gél) e duas barras energéticas (crunch bar) americanas, ótimas.

Ao final do pedal o vento tava começando a pegar. Ainda bem que fui rápido. terminei essa etapa com 2:31h.

Transição rápida para a corrida, mais um gel, bcaa e o último gole de gatorade na saída da barraca. Não bebo gatorade na corrida, não consigo. Correndo é só água e no final coca cola. É um ritual interessante, dois copos no posto. Furo um deles, tomo um gole que demora pra descer e o resto vai para a cabeça e nuca. Mesma coisa com a segunda. Vou ter que resolver isso para o Ironman em Floripa. Uma das opções é passar pelo posto caminhando e beber com mais calma, vamos ver.

Pouco antes do primeiro retorno cruzei com o Flavinho voltando. Ele me passou no começo do ciclismo. Tive que fazer muita força pra alcançar ele nesse dia e só consegui na última volta. Depois ele me contou que fez a melhor meia maratona da vida dele. Não foi fácil.

O mais interessante foi a chegada. Coloquei em um post a pouco tempo que não somos profissionais e que dois segundos não fazem diferença em nossos tempos, sei... Faltando uns trezentos metros pro final passei pelo Emerson que como sempre vibra com seus atletas. Me disse pra fazer só mais um pouco de força que tinha uma subidinha e depois acelerar pra chegada. Olhei pra trás e vi um cara chegando em mim. Pensei, "ai que saco, vou ter que fazer força a essa altura da prova?" . Por alguns segundos fiquei na dúvida se deveria segurar o cara ou não. Decidi então não deixar ele me ultrapassar, acelerei e fiquei olhando. Ele vinha chegando, e forte. Contorno, descida e o tapete de chegada. Dei a última olhada pra trás e o cara chegando. Acelerei, só pensava que tinha vindo ali para pegar a vaga pra Clearwater e que se esse atleta fosse da minha categoria, e pegasse a última vaga porque eu tinha ficado com preguiça de fazer força não iria me perdoar.

Todos os treinos, as dores, fisioterapia, musculação, os famosos nãos que os triatletas dizem diariamente: não vou ao cinema porque tenho treino amanhã, não vou sair, não vou beber, não vou comer carne vermelha que adoro, não vou comer besteira, os treinos de romeiros as 7 da manhã de domingo, que duravam 4 a 5 horas. Treinos longos de corrida na esteira porque estava chovendo. As unhas dos pés que foram embora, as bolhas que já estavam me machucando, os dias que treinei com tendinite no joelho e não reclamava pra não ter que ouvir você tem que diminuir o treino. As sessões diárias de gelo sozinho em silêncio em casa que nunca contei pra ninguém. 

Tudo isso veio na minha cabeça em dois segundos, e foi com essa diferença de tempo entre eu, sexto lugar e o chileno que vinha me pegando. Por dois segundos peguei o sexto lugar na prova e a vaga para o mundial na flórida dia 13 de novembro.

E pensar que achava que dois segundos não iriam mudar minha vida numa prova. Mas que fique registrado, agradeci a todos os voluntários e aproveitei muito a prova.

Depois disso almoçamos/jantamos, com muita risada. Fomos beber no Haus Heringer, uma ótima cerveja artesanal de Pomerode e depois dormi demais. No dia seguinte fui a premiação acompanhar a Nilma que ficou em segundo lugar na categoria dela e depois alguns tensos minutos até finalmente conseguir a vaga para Clearwater. Foi muito bacana. Agora tenho que treinar mais ainda, para representar meu país nesse desafio.

Agradecimentos:

Essa conquista foi especial e quero dividí-la com alguns amigos:

Meu irmão Alcy por ter se inspirado em mim para voltar ao triathlon e ter me inspirado de volta para continuar firme no projeto do iron, e claro pelas dicas médicas permanentes.
Os companheiros de treinos, Marquinhos Pereira, Daniel Blois, Ricardinho (cachorro louco), André Rapoporte, Cláudia Aratangi, Graciela Moeller, Paulinha Ziegert, Thelma Filipovitch, Flávio Carvalho, Felipe Gama, Diogo Loureiro, e mais um monte de gente que chega de madrugada na USP com cara de sono. Além dos amigos fora da MPR, Nilma Machado e Pedro Fernandes que estavam o ano passado e viram minha cara de decepção quando não peguei a vaga.
Agradecimento especial ao Emerson Gomes que tem feito um trabalho ótimo nas planilhas e alterando constantemente meus treinos pra encaixar com o ritmo maluco de viagens profissionais que tenho tido ultimamente. E também a equipe MPR.

Essa conquista foi especial para mim e foi ótimo dividí-la com todos.

Fui.. treinando forte de novo, ufa

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ironman 70.3 Penha - Parte 3

Por que será que estou com Kid Abelha na cabeça? Quem será que foi o infeliz que colocou isso pra tocar antes da prova? 

Largamos as 9:30 da manhã. Estava um friozinho gostoso e a água gelada, como sempre. Tinha muita gente na linha de largada, de repente a diferença de número de participantes ficou evidente. Era muita gente para largar de uma vez só. Resolvi usar a mesma estratégia que venho usando sempre. Largar do lado direito e bem na frente. Força até a primeira bóia para me livrar da confusão. 

Para minha surpresa a largada foi tranquila. Com exceção de um ou dois socos e pontapés, me lembro perfeitamente de pensar que a pancadaria durou apenas 40 segundos. No portão de bóias que teríamos que passar os atletas aglomeraram novamente, mas nada desesperador. Logo após encontrei uma nadadora da categoria profissional e resolvi acompanhá-la lado a lado. Ela estava em bom ritmo e foi uma boa companhia durante o percurso inteiro. 

Minha grande preocupação durante a natação era tentar me livrar do Kid Abelha. Não que não goste, mas vamos combinar, não é trilha sonora pra uma prova dessas. Eu imaginando algo como Nine Inch Nails, Cake, Franz Ferdinand ou Pearl Jam. 

Após a segunda bóia comecei a mudar as rádios. "Vamos ver se esqueço a Paula Toler" barulho de estática, U2. Where the streets have no name. Ok, gosto muito, mas meio sem ritmo para um 70.3.... estática, entra NIN, head on the hole...hmmmm porrada demais "I'd rather die than give you control"??? meio dramático demais... estática.... Franz Ferdinand - No you girls, não gostei, estática e....Pearl Jam!!!!!  Black. Uma música depressiva para fazer uma prova de triathlon. Show de bola, se é pra ser assim, que seja. E lá vou eu "and now my bitter hands, cradle broken glass, of what was everything...."

Tenda de troca, uma confusão. Sento pra tirar a roupa de borracha, não sai da perna esquerda e um voluntário me ajuda. Lista rápida. Capacete, óculos, número, Garmin, manguito, e saio correndo. Perdi um bom tempo tentando colocar a roupa de borracha dentro da sacola pra entregar aos voluntários. Pego a bike que está me aguardando ansiosa e saímos.

Primeiro retorno fico verificando quem está por perto e aparentemente estou bem, na frente de vários conhecidos que nadam bem apesar do tempo de 33:24min e mais 3:12min de transição.

Meu irmão jura que falou comigo na transição e que estava sentado ao meu lado. Não vi nada. O Marquinho também, ignorei total. Estava focado de uma maneira que não vi ninguém.

Fui.... tentando escrever, mas está tudo muito mais corrido que uma prova de triathlon.