quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Penha - Última parte

E lá vou eu pedalando. Esse ano tinha bem mais gente e os pelotões estavam exagerados. O problema de pelotão de triatletas é que a maioria de nós não sabe pedalar em pelotão.Não é nada demais, mas existem algumas regras de segurança, já que se um cair na frente, pode levar fácil uns dez que venham atrás. 

Encontrei uma maneira interessante de me livrar deles. Já que era difícil ultrapassar os pelotões no plano e não me interessava em nada ficar pedalando nesses bandos desorganizados por dois motivos: regras (é proíbido vácuo) e segurança, usei a estratégia de ficar afastado no plano e atacar nas subidas. Os treinos de Romeiros foram ótimos pra isso. A cada subida de viaduto eu ultrapassava pequenos pelotões de dez a quinze pessoas e assim pedalava sozinho depois sem correr riscos. É claro que as vezes alguns desses pelotões grudavam em mim, mas só até a subida seguinte. 

Fiz força no pedal e comi como nunca nessa modalidade. Como não estava tanto calor, hidratei menos que esperava, uma garrafa de accelerade de 500ml e mais tres garrafas de gatorade com água nessa etapa. Nos postos de hidratação pegava uma de gatorade e colocava totalmente no aerodrink (garrafa fixada no aerobar e que permite beber por um canudo sem sair da posição aerodinâmica), completando com água. tomei 4 Gu (gél) e duas barras energéticas (crunch bar) americanas, ótimas.

Ao final do pedal o vento tava começando a pegar. Ainda bem que fui rápido. terminei essa etapa com 2:31h.

Transição rápida para a corrida, mais um gel, bcaa e o último gole de gatorade na saída da barraca. Não bebo gatorade na corrida, não consigo. Correndo é só água e no final coca cola. É um ritual interessante, dois copos no posto. Furo um deles, tomo um gole que demora pra descer e o resto vai para a cabeça e nuca. Mesma coisa com a segunda. Vou ter que resolver isso para o Ironman em Floripa. Uma das opções é passar pelo posto caminhando e beber com mais calma, vamos ver.

Pouco antes do primeiro retorno cruzei com o Flavinho voltando. Ele me passou no começo do ciclismo. Tive que fazer muita força pra alcançar ele nesse dia e só consegui na última volta. Depois ele me contou que fez a melhor meia maratona da vida dele. Não foi fácil.

O mais interessante foi a chegada. Coloquei em um post a pouco tempo que não somos profissionais e que dois segundos não fazem diferença em nossos tempos, sei... Faltando uns trezentos metros pro final passei pelo Emerson que como sempre vibra com seus atletas. Me disse pra fazer só mais um pouco de força que tinha uma subidinha e depois acelerar pra chegada. Olhei pra trás e vi um cara chegando em mim. Pensei, "ai que saco, vou ter que fazer força a essa altura da prova?" . Por alguns segundos fiquei na dúvida se deveria segurar o cara ou não. Decidi então não deixar ele me ultrapassar, acelerei e fiquei olhando. Ele vinha chegando, e forte. Contorno, descida e o tapete de chegada. Dei a última olhada pra trás e o cara chegando. Acelerei, só pensava que tinha vindo ali para pegar a vaga pra Clearwater e que se esse atleta fosse da minha categoria, e pegasse a última vaga porque eu tinha ficado com preguiça de fazer força não iria me perdoar.

Todos os treinos, as dores, fisioterapia, musculação, os famosos nãos que os triatletas dizem diariamente: não vou ao cinema porque tenho treino amanhã, não vou sair, não vou beber, não vou comer carne vermelha que adoro, não vou comer besteira, os treinos de romeiros as 7 da manhã de domingo, que duravam 4 a 5 horas. Treinos longos de corrida na esteira porque estava chovendo. As unhas dos pés que foram embora, as bolhas que já estavam me machucando, os dias que treinei com tendinite no joelho e não reclamava pra não ter que ouvir você tem que diminuir o treino. As sessões diárias de gelo sozinho em silêncio em casa que nunca contei pra ninguém. 

Tudo isso veio na minha cabeça em dois segundos, e foi com essa diferença de tempo entre eu, sexto lugar e o chileno que vinha me pegando. Por dois segundos peguei o sexto lugar na prova e a vaga para o mundial na flórida dia 13 de novembro.

E pensar que achava que dois segundos não iriam mudar minha vida numa prova. Mas que fique registrado, agradeci a todos os voluntários e aproveitei muito a prova.

Depois disso almoçamos/jantamos, com muita risada. Fomos beber no Haus Heringer, uma ótima cerveja artesanal de Pomerode e depois dormi demais. No dia seguinte fui a premiação acompanhar a Nilma que ficou em segundo lugar na categoria dela e depois alguns tensos minutos até finalmente conseguir a vaga para Clearwater. Foi muito bacana. Agora tenho que treinar mais ainda, para representar meu país nesse desafio.

Agradecimentos:

Essa conquista foi especial e quero dividí-la com alguns amigos:

Meu irmão Alcy por ter se inspirado em mim para voltar ao triathlon e ter me inspirado de volta para continuar firme no projeto do iron, e claro pelas dicas médicas permanentes.
Os companheiros de treinos, Marquinhos Pereira, Daniel Blois, Ricardinho (cachorro louco), André Rapoporte, Cláudia Aratangi, Graciela Moeller, Paulinha Ziegert, Thelma Filipovitch, Flávio Carvalho, Felipe Gama, Diogo Loureiro, e mais um monte de gente que chega de madrugada na USP com cara de sono. Além dos amigos fora da MPR, Nilma Machado e Pedro Fernandes que estavam o ano passado e viram minha cara de decepção quando não peguei a vaga.
Agradecimento especial ao Emerson Gomes que tem feito um trabalho ótimo nas planilhas e alterando constantemente meus treinos pra encaixar com o ritmo maluco de viagens profissionais que tenho tido ultimamente. E também a equipe MPR.

Essa conquista foi especial para mim e foi ótimo dividí-la com todos.

Fui.. treinando forte de novo, ufa

Um comentário:

  1. Parabéns pela prova e pela vaga!

    Valeu pela lembrança, valeu pelos treinos!

    Bora treinar forte!

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