terça-feira, 31 de agosto de 2010

Trofeu Brasil na USP e Ironman 70.3 em Penha

É tanta coisa pra escrever. Vou tentar ser curto, mas como não vai ser possível, serão alguns posts sobre essas duas provas.

Por que as duas provas juntas? É fácil. Pra mim uma foi continuação da outra.

Começo na sexta-feira, dia 27 de agosto, um dia antes do Iron 70.3. As 10:00hs fui testar a temperatura da água com a Nilma e Julinha e mais meia dúzia de pessoas. A temperatura estava agradável, um pouco frio, céu nublado e estava me sentindo um pouco ansioso e preocupado. Consegui nadar até as primeiras duas bóias numa água fria mas aceitável. A sensação de alívio nesse momento foi brutal. A confiança começou a retornar a minha cabeça. Quando coloquei o pé na água tive uma sensação conhecida, uma lembrança desagradável da minha experiência negativa de alguns dias antes. Cheguei na praia dei algumas voltas desorientado e pensando no que fazer, para de uma hora para outra ouvir a Julinha falar para pular na água. E foi isso que fiz. Me joguei com tudo, sem perdão. No começo estava bem frio, mas após algumas braçadas, nada de pressão no peito, apenas a satisfação de deslizar pelas águas salgadas de Santa Catarina.

Os primeiros momentos são mágicos. O som das braçadas e respiração dentro d'água, a água gelada entrando pelas frestas da roupa de borracha, principalmente na nuca, descendo pelas costas sem pedir licença para em pouco tempo se aquecer e criar uma camada de água quente que isola o nadador do frio. E foi assim que refiz a amizade com esse ambiente. Fazendo uma simbiose que nos tornou melhores e novamente amigos. Dava algumas braçadas e olhava para frente para checar as bóias, conseguia enxergar bem minhas mãos quando estavam para frente ou para baixo naquela água limpa e fria. Me lembrei das viagens a Camboriú com meus amigos para surfar no inverno e também das inúmeras vezes que fomos para Ibiraquera velejar de windsurf e tínhamos que sair da água por alguns minutos e ligar o ar quente do carro para aquecer as mãos e depois voltar para mais uma sessão de ondas com um vento norte de 30 nós e velas de 4 metros quadrados.

Chegamos nas bóias e esperei a Ju e sua touca rosa de barbatanas. Fiz algumas marcações de navegação e voltei pra praia onde ficamos conversando por mais ou menos uma hora. Que alívio.

Para realmente entender o que se passava na minha cabeça é preciso voltar ao dia 22 de agosto, domingo, na USP, onde a temperatura da água estava em 17 graus as 9:15hs quando largava para a terceira etapa do Troféu Brasil de Triathlon.

A primeira pergunta do leitor pode ser: "Você está louco? Troféu Brasil na USP uma semana antes de Penha?". Não é uma pergunta totalmente absurda, mas havia uma boa razão para isso. Em primeiro lugar estou disputando o campeonato e competitivo como sou, não iria deixar de lado uma etapa importante. Em segundo lugar, conversando com o Emerson (técnico) chegamos a conclusão que poderia ser feito em ritmo de treino sem muitos traumas.

Estava extremamente confiante e tranquilo para esta etapa na USP. Percurso novo para o ciclismo e corrida. Os dois planos e rápidos. Era uma prova para fazer tempo baixo, mas não era esse meu objetivo e teria que segurar a vontade de fazer força.

Deu tudo errado.

Testei a água uns trinta minutos antes da largada e não achei tão fria. Estava absurdamente enganado. Na primeira volta da natação (750m) não conseguia respirar. A sensação é que minha roupa de borracha (sem mangas) era de ferro e tinha sido fechada por cima das minhas costelas. Era praticamente impossível respirar. No começo da segunda volta comecei a relaxar, mas aí comecei a sentir fortes dores nos braços. Não vou fazer suspense agora. Nesse momento estava com uma leve hipotermia e estava gastando tanta energia para me manter aquecido que não estava sobrando nada para nadar. Uma sensação horrível.

Saí da água e fiz um pedal péssimo. Achei que tinha algo errado com a bicicleta. Minhas pernas queimavam a 32km/h. Essa velocidade é usada em treino leve, imagina só. Não consegui recuperar minha temperatura durante o ciclismo. Terminei a etapa ainda com frio mas pelo menos consegui fazer um ritmo progressivo e terminar pedalando próximo de 38km/h. Hidratei e comi o máximo que deu. Havia levado dois Gu para essa etapa - era pra pedalar em uma hora - tomei um logo no começo do ciclismo e o outro com 30min.

Quando sai pra correr estava em terceiro lugar a 6min do primeiro. Eu sabia que dava pra ganhar mesmo assim, mas ainda estava me sentindo fraco, e pior, meu pé esquerdo estava totalmente adormecido e ambas as pernas contraídas na panturrilha e canela. Tomei mais um gel e comecei a correr. Normalmente correria para 40min os 10km. Passei a primeira volta com 25min e finalizei a etapa com 48min. 

Assim, fiquei em terceiro na etapa (o que não foi ruim) mas com minha confiança no chão.

Algumas lições que tirei e aproveitei para dar a volta por cima em alguns dias:

  • Racionalizar o que aconteceu e entender o erro. O que causou tudo aquilo foi um fator externo. Tenho como amenizá-lo? sim, é só ter uma roupa com mangas. Vou comprar uma.
  • Durante a prova as coisas mudaram. O planejamento não deu certo. Sem desespero comecei a pensar no motivo de estar ali e os objetivos maiores. Pensei em parar várias vezes durante a corrida e não o fiz porque estava ali para marcar pontos no campeonato. Os dois adversários que estavam na minha frente não estavam bem colocados na classificação geral, então resolvi diminuir o ritmo mais ainda e controlar quem estava atrás.
  • Foi um super treinamento de superação de adversidade. Fiz o que podia. Ingeri calorias para tentar me aquecer e procurei abstrair as dores nas pernas durante a corrida. A partir do 7km da corrida comecei a correr mais solto e terminei a prova com a cabeça erguida.
  • Técnica. Quando se está cansado é isso que nos mantém. Na corrida e no pedal me concentrei em manter a técnica correta para economizar energia. No ciclismo tentava fazer a pedalada mais redonda possível, sem trancos e manter a posição aerodinâmica apesar das dores lombares - também consequência do frio. Durante a corrida pensava em manter o ritmo de 180 passadas por minuto (90 para quem conta duas como uma), cabeça olhando o horizonte, braços paralelos e mais alguns pequenos truques. Contar passadas é um método eficiente de passar o tempo e me dá um parâmetro se estou correndo na minha zona mais econômica.
Depois disso tudo fiz algumas adaptações para Penha, mas isso fica para a segunda parte....

Fui... olhando a foto dá pra ver como estava sofrendo

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