terça-feira, 26 de outubro de 2010

Minha bicicleta

Já faz um mês do último post. Longo inverno pós o 70.3 de Penha. Bateu uma ressaca e excesso de trabalho. Voltei logo aos treinos para Clearwater (mundial de Ironman 70.3) que será dia 13 de novembro, mas foi difícil de embalar. Mesmo assim o que vou escrever hoje é sobre a bicicleta e o que ela significa pra mim.

Me lembro perfeitamente do primeiro dia que andei sem as famosas rodinhas. Tinha uma bicicleta pequena vermelha, possivelmente caloi, e meu pai me deu um pouco de ajuda no começo e desci a pequena rampa da saída da casa da esquina da Reinaldino de Quadros que, naquela época ainda era de terra. Andei por talvez uns 100 metros em direção a obra dos edifícios que ficam na esquina da Souza Naves com Pe.Germano Mayer. Ao fim da minha primeira jornada não sabia como fazer a curva e assim levei o primeiro de muitos tombos. Como poderia esquecer? Impossível. É a bicicleta, o símbolo máximo da minha infância. Meu meio de transporte, diversão, esporte, brincadeiras.

São momentos mágicos. Os dias de verão que recebiam no fim da tarde aquele famoso temporal e saímos para andar de bicicleta pelas ruas do bairro e voltávamos pingando - e sem freio também. As idas a natação na academia. Quando tínhamos as meninas para brincar juntos, fazíamos um misto de brincadeira de casinha e bicicleta, saindo de "casa" para trabalhar e voltar mais tarde e participar também das brincadeiras delas. Era ótimo. Certa vez meu grande amigo de infância, Marcos André, teve a feliz idéia de dar um susto em sua irmã e combinamos de passar um em cada direção em lados opostos a toda velocidade. O que não contávamos é que um dos dois errou o lado e batemos de frente sob os olhos admirados da Michele. Em outro dia estava na garupa da bicicleta dele e pedi que não descesse rápido da calçada e a próxima lembrança que tenho é do meu incisivo central direito quebrado (quem nunca viu é só prestar atençao na próxima vez que me encontrar). Para completar nossas peripécias saímos a noite para tocar a campainha dos vizinhos e nos esconder e numa dessas vezes tivemos que simular um tombo de bicicleta pois o vizinho resolveu fazer guarda em frente da casa e já estava no horário do jantar. Se colou não sei, mas foi ridículo simular choro rindo.

Depois vieram as bicicletas BMX. O primeiro a ter foi o Dudu, fazíamos um circuito na rua com rampas de madeirite "emprestadas" de alguma obra e tijolos da mesma origem. Cronometrávamos a volta e assim passávamos horas do nosso dia, tentando ser mais rápidos e acabando com o que restava de pele em nossos joelhos e canelas a cada tombo.

Teve também, um pouco antes, a época das Caloi 10. Eu tinha uma, o Marcos tinha uma peugeot azul e o Dudu uma Monark laranja. tínhamos um circuito pelas ruas do bairro e novamente saímos cronometrando as voltas. Pena que naquela época não pensávamos em andar em pelotão.

Sempre gostei de ferramentas e as manutenções eram feitas em casa. Claro que ter três irmãos mais velhos e um pai com uma caixa de ferramentas equipada ajudou muito. Mas aprendi a fazer quase tudo, desde regular freios, trocar e remendar câmeras, regular a tensão da corrente, lavar, limpar, lubrificar, o que tivesse que ser feito. Regulagem do câmbio era um pouco mais difícil mas as vezes dava certo e devo lembrar que não tinha blocagem rápida naquela época, era na base da chave de boca e alicate de pressão.

Hoje tenho uma bicicleta de gente grande mas sinto saudades daquelas bicicletas e do que elas significavam. A bicicleta é para a criança o símbolo máximo da liberdade e da responsabilidade que vem com ela. Você sai e está por conta própria, mas tem que cuidar bem dela, entender como funciona e respeitar seus limites permanentemente.

Minha filha tem cinco anos e ainda não sabe andar sem rodinhas. É mais velha do que eu era na minha aventura na bicicleta vermelha. Ela tem uma bicicleta das Power puff girls, rosa, linda, com uma cestinha em formato de coração, mas acho que nunca anda nela. Será que ela vai um dia gostar das bicicletas como eu? Sei lá, mas já tenho uma boa idéia de presente de natal e o que fazer nas férias com ela.

Fui... procurando bicicletas de meninas. 

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Penha - Última parte

E lá vou eu pedalando. Esse ano tinha bem mais gente e os pelotões estavam exagerados. O problema de pelotão de triatletas é que a maioria de nós não sabe pedalar em pelotão.Não é nada demais, mas existem algumas regras de segurança, já que se um cair na frente, pode levar fácil uns dez que venham atrás. 

Encontrei uma maneira interessante de me livrar deles. Já que era difícil ultrapassar os pelotões no plano e não me interessava em nada ficar pedalando nesses bandos desorganizados por dois motivos: regras (é proíbido vácuo) e segurança, usei a estratégia de ficar afastado no plano e atacar nas subidas. Os treinos de Romeiros foram ótimos pra isso. A cada subida de viaduto eu ultrapassava pequenos pelotões de dez a quinze pessoas e assim pedalava sozinho depois sem correr riscos. É claro que as vezes alguns desses pelotões grudavam em mim, mas só até a subida seguinte. 

Fiz força no pedal e comi como nunca nessa modalidade. Como não estava tanto calor, hidratei menos que esperava, uma garrafa de accelerade de 500ml e mais tres garrafas de gatorade com água nessa etapa. Nos postos de hidratação pegava uma de gatorade e colocava totalmente no aerodrink (garrafa fixada no aerobar e que permite beber por um canudo sem sair da posição aerodinâmica), completando com água. tomei 4 Gu (gél) e duas barras energéticas (crunch bar) americanas, ótimas.

Ao final do pedal o vento tava começando a pegar. Ainda bem que fui rápido. terminei essa etapa com 2:31h.

Transição rápida para a corrida, mais um gel, bcaa e o último gole de gatorade na saída da barraca. Não bebo gatorade na corrida, não consigo. Correndo é só água e no final coca cola. É um ritual interessante, dois copos no posto. Furo um deles, tomo um gole que demora pra descer e o resto vai para a cabeça e nuca. Mesma coisa com a segunda. Vou ter que resolver isso para o Ironman em Floripa. Uma das opções é passar pelo posto caminhando e beber com mais calma, vamos ver.

Pouco antes do primeiro retorno cruzei com o Flavinho voltando. Ele me passou no começo do ciclismo. Tive que fazer muita força pra alcançar ele nesse dia e só consegui na última volta. Depois ele me contou que fez a melhor meia maratona da vida dele. Não foi fácil.

O mais interessante foi a chegada. Coloquei em um post a pouco tempo que não somos profissionais e que dois segundos não fazem diferença em nossos tempos, sei... Faltando uns trezentos metros pro final passei pelo Emerson que como sempre vibra com seus atletas. Me disse pra fazer só mais um pouco de força que tinha uma subidinha e depois acelerar pra chegada. Olhei pra trás e vi um cara chegando em mim. Pensei, "ai que saco, vou ter que fazer força a essa altura da prova?" . Por alguns segundos fiquei na dúvida se deveria segurar o cara ou não. Decidi então não deixar ele me ultrapassar, acelerei e fiquei olhando. Ele vinha chegando, e forte. Contorno, descida e o tapete de chegada. Dei a última olhada pra trás e o cara chegando. Acelerei, só pensava que tinha vindo ali para pegar a vaga pra Clearwater e que se esse atleta fosse da minha categoria, e pegasse a última vaga porque eu tinha ficado com preguiça de fazer força não iria me perdoar.

Todos os treinos, as dores, fisioterapia, musculação, os famosos nãos que os triatletas dizem diariamente: não vou ao cinema porque tenho treino amanhã, não vou sair, não vou beber, não vou comer carne vermelha que adoro, não vou comer besteira, os treinos de romeiros as 7 da manhã de domingo, que duravam 4 a 5 horas. Treinos longos de corrida na esteira porque estava chovendo. As unhas dos pés que foram embora, as bolhas que já estavam me machucando, os dias que treinei com tendinite no joelho e não reclamava pra não ter que ouvir você tem que diminuir o treino. As sessões diárias de gelo sozinho em silêncio em casa que nunca contei pra ninguém. 

Tudo isso veio na minha cabeça em dois segundos, e foi com essa diferença de tempo entre eu, sexto lugar e o chileno que vinha me pegando. Por dois segundos peguei o sexto lugar na prova e a vaga para o mundial na flórida dia 13 de novembro.

E pensar que achava que dois segundos não iriam mudar minha vida numa prova. Mas que fique registrado, agradeci a todos os voluntários e aproveitei muito a prova.

Depois disso almoçamos/jantamos, com muita risada. Fomos beber no Haus Heringer, uma ótima cerveja artesanal de Pomerode e depois dormi demais. No dia seguinte fui a premiação acompanhar a Nilma que ficou em segundo lugar na categoria dela e depois alguns tensos minutos até finalmente conseguir a vaga para Clearwater. Foi muito bacana. Agora tenho que treinar mais ainda, para representar meu país nesse desafio.

Agradecimentos:

Essa conquista foi especial e quero dividí-la com alguns amigos:

Meu irmão Alcy por ter se inspirado em mim para voltar ao triathlon e ter me inspirado de volta para continuar firme no projeto do iron, e claro pelas dicas médicas permanentes.
Os companheiros de treinos, Marquinhos Pereira, Daniel Blois, Ricardinho (cachorro louco), André Rapoporte, Cláudia Aratangi, Graciela Moeller, Paulinha Ziegert, Thelma Filipovitch, Flávio Carvalho, Felipe Gama, Diogo Loureiro, e mais um monte de gente que chega de madrugada na USP com cara de sono. Além dos amigos fora da MPR, Nilma Machado e Pedro Fernandes que estavam o ano passado e viram minha cara de decepção quando não peguei a vaga.
Agradecimento especial ao Emerson Gomes que tem feito um trabalho ótimo nas planilhas e alterando constantemente meus treinos pra encaixar com o ritmo maluco de viagens profissionais que tenho tido ultimamente. E também a equipe MPR.

Essa conquista foi especial para mim e foi ótimo dividí-la com todos.

Fui.. treinando forte de novo, ufa

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ironman 70.3 Penha - Parte 3

Por que será que estou com Kid Abelha na cabeça? Quem será que foi o infeliz que colocou isso pra tocar antes da prova? 

Largamos as 9:30 da manhã. Estava um friozinho gostoso e a água gelada, como sempre. Tinha muita gente na linha de largada, de repente a diferença de número de participantes ficou evidente. Era muita gente para largar de uma vez só. Resolvi usar a mesma estratégia que venho usando sempre. Largar do lado direito e bem na frente. Força até a primeira bóia para me livrar da confusão. 

Para minha surpresa a largada foi tranquila. Com exceção de um ou dois socos e pontapés, me lembro perfeitamente de pensar que a pancadaria durou apenas 40 segundos. No portão de bóias que teríamos que passar os atletas aglomeraram novamente, mas nada desesperador. Logo após encontrei uma nadadora da categoria profissional e resolvi acompanhá-la lado a lado. Ela estava em bom ritmo e foi uma boa companhia durante o percurso inteiro. 

Minha grande preocupação durante a natação era tentar me livrar do Kid Abelha. Não que não goste, mas vamos combinar, não é trilha sonora pra uma prova dessas. Eu imaginando algo como Nine Inch Nails, Cake, Franz Ferdinand ou Pearl Jam. 

Após a segunda bóia comecei a mudar as rádios. "Vamos ver se esqueço a Paula Toler" barulho de estática, U2. Where the streets have no name. Ok, gosto muito, mas meio sem ritmo para um 70.3.... estática, entra NIN, head on the hole...hmmmm porrada demais "I'd rather die than give you control"??? meio dramático demais... estática.... Franz Ferdinand - No you girls, não gostei, estática e....Pearl Jam!!!!!  Black. Uma música depressiva para fazer uma prova de triathlon. Show de bola, se é pra ser assim, que seja. E lá vou eu "and now my bitter hands, cradle broken glass, of what was everything...."

Tenda de troca, uma confusão. Sento pra tirar a roupa de borracha, não sai da perna esquerda e um voluntário me ajuda. Lista rápida. Capacete, óculos, número, Garmin, manguito, e saio correndo. Perdi um bom tempo tentando colocar a roupa de borracha dentro da sacola pra entregar aos voluntários. Pego a bike que está me aguardando ansiosa e saímos.

Primeiro retorno fico verificando quem está por perto e aparentemente estou bem, na frente de vários conhecidos que nadam bem apesar do tempo de 33:24min e mais 3:12min de transição.

Meu irmão jura que falou comigo na transição e que estava sentado ao meu lado. Não vi nada. O Marquinho também, ignorei total. Estava focado de uma maneira que não vi ninguém.

Fui.... tentando escrever, mas está tudo muito mais corrido que uma prova de triathlon.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Trofeu Brasil na USP e Ironman 70.3 em Penha - parte 2


Terça-feira, 24 de agosto de 2010. São 7:30 e estou acordado a mais de uma hora pensando no que fazer. Quando se mora sozinho o que mais sobra é tempo pra pensar. Enquanto cozinho, carrego a máquina de lavar, banho, tv, etc. Era dia de pedal na USP, mas decidi não ir. Não era hora de gastar energia a toa.

Incrível, mas a rotina de acordar terça e quinta as 4:45 para pedalar me fez despertar sem nem colocar o alarme. Pensei por alguns instantes em levantar e pegar a bike, mas resolvi seguir o plano e voltei a dormir. Ainda no banho as 7:30, continuo pensando no que fazer. A orientação do Emerson foi que mudasse minha alimentação antes da prova, com uma ingestão absurdamente maior de calorias para evitar problemas com o frio. Troquei o pedal por duas horas de spining na academia nesse dia, mas ainda tinha que testar a alimentação. Resolvi então mudar minha agenda e tomar café-da-manhã as 9:30h. Fui para o escritório e aproveitei para tomar café por lá e ver se o suplemento hiper calórico iria descer em três horas. Iria também testar nas duas horas de spining a ingestão de gel junto com a barra energética. Tudo ou nada.

Deu certo. Não senti nenhum desconforto e as 6:30h de sábado lá estava eu na cozinha do hotel Itapocorói, em Penha, preparando meu super shake mega calórico com banana, no liquidificador emprestado pelas cozinheiras que ficaram mega felizes com minha presença e piadas logo cedo. 

O hotel Itapocorói merece uma menção a parte. A maioria dos meus amigos ficou no hotel Vila Olaria, incluindo meu irmão. Preferi ficar no Itapocoroi pois já conhecia os dois. Estar perto do mar e da largada é essencial na minha opinião. A equipe do hotel é muito bacana, Daniel, Priscila, as cozinheiras, todos já me conheciam do ano passado e foi bom ter rostos familiares por perto. A Nilma e o Neto também estavam por lá, o que foi bacana. Uma das lembranças de Penha que sempre terei são os desenhos dos alunos das escolas públicas que são enviados para os atletas.

Nesse ano recebi um desenho de um garoto de 15 anos, que dizia "tomara que você ganhe a prova" com uma bicicleta desenhada na paisagem de Penha, muito legal. Fiquei pensando que mal sabia ele que quem pegou o desenho dele não tinha a menor chance de ganhar. Mas isso depende do conceito de ganhar, e pensando bem acho que ganhei sim.

Na quarta-feira, dia 25 peguei a estrada com o Marcos Pereira, companheiro de treino na MPR, e grande parceiro de pedaladas em Romeiros. O Marcos é o cara com quem mais treinei esse ano, e ver a evolução do pedal dele durante o ano foi gratificante. A corrida então nem se fala. Quando começamos a treinar mais tempo juntos ele estava voltando de uma lesão e bem fraco, hoje a história é outra. Vai dar trabalho pra turma. Era a primeira vez que iria participar de um 70.3 e claro que estava bem ansioso. Fez uma ótima prova apesar de achar que não. Provas longas são feitas de detalhes e a experiência conta muito, reconhecer quando o corpo está precisando de atenção é difícil, mas as lições vão ficando e nos tornando mais espertos.

Chegamos a Curitiba e no dia seguinte saímos para Penha, não sem antes passar numa casa de câmbio e comprar os 325 dólares para uma possível inscrição para o mundial em Clearwater. A prova de Penha é da chancela Ironman 70.3 e dá 50 vagas para o mundial de Ironman 70.3 que acontece anualmente em Clearwater - FL. É uma peneira difícil de passar. Na minha categoria, por exemplo, tinha 105 inscritos para 5 vagas. Eu estava indo lá com o objetivo de pegar uma dessas vagas.

Chegamos lá e depois de nos instalar-mos, cada um em seu hotel, incluíndo meu irmão Alcy, que veio entrou na caravana em Curitiba e estava lá para tentar pela primeira vez esse desafio. Fomos almoçar e já tivemos a companhia da Nilma e Neto, casal de Botucatu que conheci ano passado nesse mesmo lugar. Combinamos um pedal para testar as bikes as 16:30 e tiramos aquela foto lá de cima depois disso. Da esquerda para direita, Artur (RJ), Marcos Pereira (SP), Nilma (Botucatu-SP), eu (SP) e Alcy (Curitiba - PR).

A Prova:

Vou correr o risco de ser óbvio mas irei dividir a prova em três partes: natação, ciclismo e corrida. Não tem como ser diferente.

Mas primeiro o objetivo disso tudo. Ano passado fiquei por duas vagas para o mundial. Isso que o número de vagas era maior e a quantidade de atletas menor. Para se ter uma idéia, na categoria de 40-44 anos, que é a que participo, o número passou de pouco menos de 80 para 105 atletas e o tempo do primeiro colocado esse ano foi de 4:08h e no ano passado um pouco mais de 4:30. Eu já sabia que a coisa ia ser difícil, mas mesmo assim estava determinado a conseguir. O número de vagas disponíveis para minha categoria era de 5 contra 8 no ano passado. Fiz algumas contas e cheguei a conclusão que com 4:40h conseguiria a vaga sem depender de ninguém, ou seja, ficaria em quinto lugar.

Conversei com o Emerson duas semanas antes da prova contando dessa minha brilhante conclusão e que minha estratégia seria sair com no máximo 3:00 do T2 (transição do ciclismo para corrida). Ele me deu um olhar meio descrente, mas eu sabia que não era tanta loucura assim, era só não bobear. Largar bem na frente na natação e sair da água com 30min, 2:25h de pedal e 5min para as transições. Depois é só fazer o que sei, correr para algo entre 1:35h e 1:40h. Fácil - no papel.

Objetivos são interessantes. Escrevi sobre metas e objetivos em um outro post o ano passado. No começo do ano, conversando com uma grande amiga que anda temporariamente afastada do meu convívio, contei em segredo que tinha duas grandes metas para 2010. A primeira, que considerava mais fácil, era classificar para Clearwater. Naquela época achava isso, não sabia que o número de inscrições seria tão alto nem que seriam menos vagas. A segunda meta, essa sim bastante ambiciosa seria ganhar uma etapa do Troféu Brasil na categoria Elite 40-44. Para minha surpresa, a vitória no Troféu Brasil veio cedo, já na segunda etapa em Santos e ainda com a quebra de um record pessoal. Agora só faltava a meta "fácil" - sei...

Fui... não foi nada fácil

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Trofeu Brasil na USP e Ironman 70.3 em Penha

É tanta coisa pra escrever. Vou tentar ser curto, mas como não vai ser possível, serão alguns posts sobre essas duas provas.

Por que as duas provas juntas? É fácil. Pra mim uma foi continuação da outra.

Começo na sexta-feira, dia 27 de agosto, um dia antes do Iron 70.3. As 10:00hs fui testar a temperatura da água com a Nilma e Julinha e mais meia dúzia de pessoas. A temperatura estava agradável, um pouco frio, céu nublado e estava me sentindo um pouco ansioso e preocupado. Consegui nadar até as primeiras duas bóias numa água fria mas aceitável. A sensação de alívio nesse momento foi brutal. A confiança começou a retornar a minha cabeça. Quando coloquei o pé na água tive uma sensação conhecida, uma lembrança desagradável da minha experiência negativa de alguns dias antes. Cheguei na praia dei algumas voltas desorientado e pensando no que fazer, para de uma hora para outra ouvir a Julinha falar para pular na água. E foi isso que fiz. Me joguei com tudo, sem perdão. No começo estava bem frio, mas após algumas braçadas, nada de pressão no peito, apenas a satisfação de deslizar pelas águas salgadas de Santa Catarina.

Os primeiros momentos são mágicos. O som das braçadas e respiração dentro d'água, a água gelada entrando pelas frestas da roupa de borracha, principalmente na nuca, descendo pelas costas sem pedir licença para em pouco tempo se aquecer e criar uma camada de água quente que isola o nadador do frio. E foi assim que refiz a amizade com esse ambiente. Fazendo uma simbiose que nos tornou melhores e novamente amigos. Dava algumas braçadas e olhava para frente para checar as bóias, conseguia enxergar bem minhas mãos quando estavam para frente ou para baixo naquela água limpa e fria. Me lembrei das viagens a Camboriú com meus amigos para surfar no inverno e também das inúmeras vezes que fomos para Ibiraquera velejar de windsurf e tínhamos que sair da água por alguns minutos e ligar o ar quente do carro para aquecer as mãos e depois voltar para mais uma sessão de ondas com um vento norte de 30 nós e velas de 4 metros quadrados.

Chegamos nas bóias e esperei a Ju e sua touca rosa de barbatanas. Fiz algumas marcações de navegação e voltei pra praia onde ficamos conversando por mais ou menos uma hora. Que alívio.

Para realmente entender o que se passava na minha cabeça é preciso voltar ao dia 22 de agosto, domingo, na USP, onde a temperatura da água estava em 17 graus as 9:15hs quando largava para a terceira etapa do Troféu Brasil de Triathlon.

A primeira pergunta do leitor pode ser: "Você está louco? Troféu Brasil na USP uma semana antes de Penha?". Não é uma pergunta totalmente absurda, mas havia uma boa razão para isso. Em primeiro lugar estou disputando o campeonato e competitivo como sou, não iria deixar de lado uma etapa importante. Em segundo lugar, conversando com o Emerson (técnico) chegamos a conclusão que poderia ser feito em ritmo de treino sem muitos traumas.

Estava extremamente confiante e tranquilo para esta etapa na USP. Percurso novo para o ciclismo e corrida. Os dois planos e rápidos. Era uma prova para fazer tempo baixo, mas não era esse meu objetivo e teria que segurar a vontade de fazer força.

Deu tudo errado.

Testei a água uns trinta minutos antes da largada e não achei tão fria. Estava absurdamente enganado. Na primeira volta da natação (750m) não conseguia respirar. A sensação é que minha roupa de borracha (sem mangas) era de ferro e tinha sido fechada por cima das minhas costelas. Era praticamente impossível respirar. No começo da segunda volta comecei a relaxar, mas aí comecei a sentir fortes dores nos braços. Não vou fazer suspense agora. Nesse momento estava com uma leve hipotermia e estava gastando tanta energia para me manter aquecido que não estava sobrando nada para nadar. Uma sensação horrível.

Saí da água e fiz um pedal péssimo. Achei que tinha algo errado com a bicicleta. Minhas pernas queimavam a 32km/h. Essa velocidade é usada em treino leve, imagina só. Não consegui recuperar minha temperatura durante o ciclismo. Terminei a etapa ainda com frio mas pelo menos consegui fazer um ritmo progressivo e terminar pedalando próximo de 38km/h. Hidratei e comi o máximo que deu. Havia levado dois Gu para essa etapa - era pra pedalar em uma hora - tomei um logo no começo do ciclismo e o outro com 30min.

Quando sai pra correr estava em terceiro lugar a 6min do primeiro. Eu sabia que dava pra ganhar mesmo assim, mas ainda estava me sentindo fraco, e pior, meu pé esquerdo estava totalmente adormecido e ambas as pernas contraídas na panturrilha e canela. Tomei mais um gel e comecei a correr. Normalmente correria para 40min os 10km. Passei a primeira volta com 25min e finalizei a etapa com 48min. 

Assim, fiquei em terceiro na etapa (o que não foi ruim) mas com minha confiança no chão.

Algumas lições que tirei e aproveitei para dar a volta por cima em alguns dias:

  • Racionalizar o que aconteceu e entender o erro. O que causou tudo aquilo foi um fator externo. Tenho como amenizá-lo? sim, é só ter uma roupa com mangas. Vou comprar uma.
  • Durante a prova as coisas mudaram. O planejamento não deu certo. Sem desespero comecei a pensar no motivo de estar ali e os objetivos maiores. Pensei em parar várias vezes durante a corrida e não o fiz porque estava ali para marcar pontos no campeonato. Os dois adversários que estavam na minha frente não estavam bem colocados na classificação geral, então resolvi diminuir o ritmo mais ainda e controlar quem estava atrás.
  • Foi um super treinamento de superação de adversidade. Fiz o que podia. Ingeri calorias para tentar me aquecer e procurei abstrair as dores nas pernas durante a corrida. A partir do 7km da corrida comecei a correr mais solto e terminei a prova com a cabeça erguida.
  • Técnica. Quando se está cansado é isso que nos mantém. Na corrida e no pedal me concentrei em manter a técnica correta para economizar energia. No ciclismo tentava fazer a pedalada mais redonda possível, sem trancos e manter a posição aerodinâmica apesar das dores lombares - também consequência do frio. Durante a corrida pensava em manter o ritmo de 180 passadas por minuto (90 para quem conta duas como uma), cabeça olhando o horizonte, braços paralelos e mais alguns pequenos truques. Contar passadas é um método eficiente de passar o tempo e me dá um parâmetro se estou correndo na minha zona mais econômica.
Depois disso tudo fiz algumas adaptações para Penha, mas isso fica para a segunda parte....

Fui... olhando a foto dá pra ver como estava sofrendo

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Que venha Penha

Não sei exatamente como começou essa estória do "que venha Penha", mas pegou.

Explico:
Penha = Ironman 70.3 Brasil, que irá acontecer na cidade de Penha - SC dia 28 de agosto.
Quem fala isso? A nossa pequena turma de triatletas da MPR (Marcos Paulo Reis Assessoria esportiva) e alguns convidados especiais.

É uma daquelas piadas internas que só tem graça pra quem conhece, mas vou tentar explicar um pouco porque é tão importante.

Semana que vem alguns amigos irão fazer pela primeira vez uma prova desse tipo. Esse post é especialmente dedicado para eles e também para os leitores que irão passar por essa experiência no sábado.

Completar uma prova de triathlon não é para qualquer um. Um short (750/20/5) pode ser feito sem problemas por um atleta dedicado, por exemplo um corredor, que dedique-se por umas 8 semanas a fazer um treinamento específico para essa prova. A distância olímpica (1500/40/10) já é mais bacana, exige mais do organismo, e também dos treinos. É uma passo natural na evolução, assim como o Ironman 70.3 (1900/90/21) que é o treino para o IronMan (3800/180/42).

Vamos então ao que tenho a dizer para meus amigos (Alcy, André, Beto, Daniel, Julinha, Marquinhos, Ricardinho, Dani, Celso, Adriana e tantos outros) . Esses são os que acompanhei mais de perto e a maioria ainda não fez essa distância, ainda existe uma longa lista de pessoas.

Faz um ano que fiz meu primeiro 70.3. Depois dele fiz mais dois (Pirassunuga e Caiobá) e confesso que por enquanto é minha distância preferida. Não é uma prova para ser feita todo o mês, pelo menos para nós amadores, o esforço já é grande.

Umas dicas? Sem querer ser chato ou correr o risco de ser uma das "vozes" . Não entendeu olha o link

-Chega de treinar, vai descansar.
-Alimentação é importante, mas não pode ser um stress
-Tenha um plano de prova flexível
-Hidratação é fundamental
-Triathlon não é Nadar, Pedalar, Correr. O correto é Nadarpedalarcorrer , o que você fizer em uma das etapas vai afetar a outra. Para mim, tudo antes do T2 é preparação para a corrida.
-Seja gentil e cortes com os voluntários e equipe da organização. Não tem porque não ser. Brinque com a galera que entrega as caramanholas nos postos de hidratação, eles adoram (elas então...). Fazem a maior festa e essa energia vem muito bem quando você já está pedalando a duas horas naquela posição ingrata aerodinâmica. Vejo em muitas provas pessoas reclamando (aliás como as pessoas reclamam hoje em dia) dos voluntários nos postos de hidratação. Peraí, você não é profissional, dois segundos a menos no seu tempo não vai fazer diferença. Em 2004 estava fazendo o Sesc triathlon de Caiobá - Pr e uma amiga veio comentar logo que acabou a prova que tinha me visto correndo. Que legal, comentei, como você me achou? Você era o único que agradecia quando entregavam água. Até hoje eu falo obrigado para cada água que me entregam em provas. Posso estar sofrendo pra burro, mas não vou deixar de fazer isso. As vezes o sorriso não sai, mas agradeço. A energia vai e volta.
-A família vai? Faça festa, envolva eles na sua conquista, brinque, de sorrisos, bata na mão. Eles fazem parte disso tudo, ou você acha que é fácil nos aguentar treinando? Ano passado passei a prova inteira vendo faixas de uma família dando parabéns pela conquista do Pai/Marido. Achei o máximo, para logo em seguida descobrir que era pro Wellington, companheiro de treino e que esse ano vai pra lá de novo. Em Caiobá minha filha Gabriela cruzou a linha de chegada comigo, sem preço (me emociono até hoje só de pensar, mas olhando a foto ali em cima qualquer um entende o porquê).

O mais importante de tudo? DIVIRTA-SE. É pra isso que acordamos as 4:30 pra pedalar, é por isso que falamos não para um monte de coisas que dão prazer momentâneo, é pra isso que treinamos de maneira insana. É para isso que tomamos o caminho de sermos Determinados em nossos objetivos.

Não sei a receita da felicidade, mas cruzar aquela linha de chegada é uma experiência única, e a euforia dessa conquista dura por semanas, isso eu prometo a vocês.

Fui... E QUE VENHA PENHA!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

TPUC - Triathlon por uma causa

Para aqueles que não conhecem e me seguem apenas nesse blog, gastem um tempinho e conheçam o projeto TPUC, é só clicar nesse link TPUC . É um projeto feito com muito carinho a atenção com os apoios da Abrale - Associação brasileira de leucemia e linfoma,  Skarp (marca de roupas que uso em minhas provas e treinos) e Staconstancia (fornecedora dos tecidos de alta tecnologia usados pela Skarp).






















Abraços

Marcos